In this moment I could reduce all this experience down to one word, a word that only is available in Portuguese and it means to miss someone: “saudade”. However, I’m hopeful that I will be able to tell you a little more than that. This is a great challenge, expressing in such a small post what I felt in the “smallest” and “richest” time of my life. The beginning was in Portugal when I signed for an NGO named WACT (We Are Changing Together). This is a great NGO because, unlike others, you can create your own projects. After some research of São Tomé and Príncipe problems coping with my passion, Bodyboard, Booogie WACT project was born.
Neste
momento poderia reduzir toda esta experiência a uma palavra só, palavra tão
portuguesa, mas do jeito santomense: sodade. No entanto,
espero conseguir transmitir-vos um pouco mais do que isso. Isto que se torna um
grande desafio, expressar por palavras o que senti no curto espaço de tempo
mais rico de toda a minha vida. Tudo começou
em Portugal, inscrevi-me numa ONG, a WACT (We Are Changing Together) que se
diferencia pelo facto de dar oportunidade aos seus formandos de criar o seu
próprio projecto. Foi assim que surgiu o projecto Boogie WACT, após um
levantamento de problemas santomenses, aliado àquilo que mais gosto de fazer,
Bodyboard.
Boogie WACT came as a way of teaching education values with children in a funny way through sport, in this case Bodyboard, a great way to teach them about responsibility, respect, resilience, challenge, cooperation, etc. Before going to São Tomé and Príncipe I gather all the material I was in need to complete this project with success. I want to thank all the people and brands that contributed to this project by offering board, duck feets, shop’s, etc. Also I want to thank for all the good words that made me believe in this project. But everything truly began in São Tomé and Príncipe. In the very first day, I was faced to what the fox in “Le Petit Prince” says “The essential is invisible to the eye”.
Assim, o
Boogie WACT surge de forma a trabalhar valores educativos com crianças de forma
divertida através do desporto, neste caso, do Bodyboard, um óptimo meio para
desenvolver valores/competências como a responsabilidade, respeito,
resiliência, desafio, cooperação, etc. Ainda em
Portugal foi feita uma campanha de recolha de material, conseguindo angariar
todo o material da modalidade necessário à prática do projecto. Desde já,
aproveito para agradecer a todas as pessoas e marcas que contribuíram com
pranchas, pés de pato, shop’s, etc., e palavras que me fizeram ter confiança e
acreditar realmente nisto. Mas tudo
começou verdadeiramente em São Tomé. E logo no primeiro dia fui confrontada com
aquilo que a raposa do principezinho diz “O essencial é invisível aos olhos”. É
em São Tomé que para mim, esta frase ganha um verdadeiro sentido.
The first days in São Tomé and Príncipe, visiting the little communities called “roças” near the place we were staying (Guadalupe), were a mixture of indescribable emotions. I never had seen such poverty: chickens and porks walking through the streets, curious children running totally free and bare-foot through the streets of dust, touching me like I was an alien but fighting in the next moment to touch my hand. A mixture of smells and rooted fish, typical smells of São Tomé and Príncipe.
Os primeiros dias passados em São Tomé, de visita às roças perto do local onde morámos, Guadalupe, são um misto de emoções e sentimentos meio inexplicável. Olhei à volta e via uma pobreza com a qual nunca me tinha deparado: porcos e galinhas a deambularem pelas ruas no meio das pessoas; crianças curiosas a correrem descalças e rotas, em total liberdade pelas ruas imundas e cheias de pó, a tocarem-me como se fosse uma extraterrestre, mas no minuto seguinte, a lutarem para me darem a mão; um misto de cheiro a peixe podre, com aquele cheiro típico santomense, com lixo;
The way of life of that people…all this creates a great chock within myself, because in that place was no such things as we western society tell as important. But at the same time I saw big white smiles in that contrasting ebony faces, strength and deepness of character in the eyes of the people, ear happy voices, singing laughs…in that moment I realize what was really important, an unquestionable peace and happiness. I felt that too, I can not imagine such a happier part of my life than that in São Tomé and Príncipe. Recovered from the initial chock, it was a love I felt with that people and that place.
O modo de vida daquelas pessoas… tudo isto me fez entrar em choque comigo mesma, porque ali não havia aquelas coisas que o mundo diz que são importantes. Mas ao mesmo tempo, ao redor via sorrisos brancos radiantes em rostos contrastantes de ébano, força e profundidade de carácter nos olhos das pessoas, ouvia vozes felizes, risos cantantes… e assim, percebi que ali havia tudo o que era realmente importante, paz e uma alegria inquestionáveis. E eu, eu também o senti! E neste momento, não me consigo imaginar mais feliz do que fui em São Tomé. Passado o choque, foi instantâneo o amor que senti por aquele lugar e por aquelas pessoas.
After the cultural chock (and also internal), it was time to start thinking about the project. I planned this whole project to Santana and some problems made me travel some kms southern to Ribeira Afonso to meet a poorer community with the advantage of offering better security conditions to practice Bodyboard. The luck was at my side. Visiting Sete Ondas Beach in the first day, I faced an amazing environment: vegetation surrounding all the beach, good waves and people that ultimately accompanied me for the rest of the project ( 3 young scouts around my age and an older lady). All of them were valued people inside the community and acted like brothers and a mother for the children and for me. It was them who welcome me in such a comforting way that currently the Boogie WACT project is there running, even without me (and my hearth is there too).
Após este
choque cultural (e interior, para dizer a verdade), estava na hora de colocar
mãos à obra e começar a pensar no projecto. Deparei-me com um problema, porque
o que tinha desenhado para ser implementado em Santana, fez-me viajar uns Km’s
mais a sul, para Ribeira Afonso, por me deparar com uma comunidade mais
carenciada e que oferecia melhores condições de segurança para a prática do
Bodyboard. Ainda assim, a sorte estava do meu lado. No primeiro dia de visita à
praia das Sete Ondas, deparo-me com um ambiente fascinante: vegetação que
abraçava toda a praia, boas ondas, e a sorte de encontrar as pessoas certas que
acabaram por me acompanhar sempre. Três jovens escuteiros mais ou menos da
minha idade, e uma senhora mais velha. Todos muito responsáveis, e figuras de
valor perante as crianças da comunidade, e uma espécie de irmãos e mãe, não só
para as crianças, mas também para mim. Foram eles que me receberam e acolheram,
e fizeram-no de forma tão reconfortante, que neste momento o Boogie WACT está
lá, mesmo eu estando cá. E o mesmo acontece com o meu coração.
What scared me the most was the time I had to spend travelling in the Hiace (what an adventure!). Hiace is a van that has 9 seats but accommodates 15 people (minimum). That trips made me start understanding that singing language of them. I lost count of how many weeding proposals I received (in that romantic? environment)…We were always very squeezed inside that van, a leg over a lady, two children dripping snot nose on my lap, a bucket full of fish and flies somewhere near me, “Kizomba” at maximum volume and off course, everyone shouting…A troubled driving, not for the driver itself but for the holes in the streets, travelling an impressive 70 km everyday like crazy, that looked that there was no end to that. After two days, all these was normal to me and everyone knew me for the “White” and, without notice it, I start acting like them and for some unknown reason I didn’t start talking like them
O que me
assustou mais nesta mudança para uma comunidade mais distante da cidade, era o
tempo que iria passar em viagens de hiace. Hiace, que aventura. Uma carrinha de
nove lugares, onde o habitual é andarem 15 pessoas (no mínimo), e o que me fez
começar a perceber um bocadinho daquela língua melodiosa deles. Oh, quantos
pedidos de casamento recebi eu naquele ambiente (romântico ?), com o sovaco de
uma senhora a roçar-me bem perto do nariz, com uma perna minha entre as pernas
de outra senhora, com duas crianças a pingarem ranho do nariz ao meu colo, com
um alguidar de peixe minado de moscas algures perto de mim, em que eu só lhe
sentia o cheiro, por ter a visibilidade reduzida pelo excesso de população que
ali se encontrava naquele cubículo sobre rodas, Kizomba em volume máximo, e
claro, todos aos berros. Uma condução exímia, não pela positiva, mas os buracos
na estrada não ajudavam, fazendo com que 70 km diários fossem feitos aos
zigue-zagues, e acabassem por parecer intermináveis. Mas ao fim de dois dias,
tudo isto já me parecia normal, já todos me conheciam como a “brranca”, e sem
me aperceber, quase que já agia como eles, e por pouco não comecei a falar
crioulo também.
This was Surf Locus first "experience testimony". Francisca Veloso da Veiga started Boogie WACT project of Bodyboard in June 2013 and currently this amazing project is running in São Tomé and Príncipe even without her. Surf Locus would like to thank Francisca for this great Post! Follow THIS link to Part 2/2.
Este foi o primeiro testemunho postado na Surf Locus. A Francisca Veloso da Veiga começou o projecto de Bodyboard Boogie WACT em Junho de 2013 e na data presente o projecto continua a decorrer em São Tomé e Princípe. A Surf Locus agradeçe à Francisca por este grande post. Segue ESTE link para a Parte 2/2.
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