Monday, September 2, 2013

Boogie WACT (PART 2/2) by Francisca Veloso da Veiga

   If you dindn't read Part 1/2, please follow THIS link.

   Se não leste a Parte 1/2, segue ESTE link por favor.
   
   So, going back, in the day of the presentation in Ribeira Afonso, with my team of monitors, there was 150 kids in front of me, screaming “choose me please, I want bodyboard”.
- What do I do with my life?
You cannot imagine the desperate I felt to choose only 50 kids. I wanted to choose every one of them, but I couldn’t put their security at risk. And that was how I won 50 children, eager to learn what I had to teach and at the same time extremely happy to teach me something they know. 

   Rebobinando… no dia de apresentação do projecto a Ribeira Afonso, já com a minha equipa de monitores formada, apareceram-me cerca de 150 crianças à minha frente a gritaram “eu quero correr prrancha, me escolhe”.
- O que é que eu faço à minha vida?
Não imaginam o desespero que é ter de escolher apenas 50 destes miúdos. Queria que todos ficassem, mas não podia comprometer a segurança de nenhum. E assim foi, 50 filhos que tinha ganho naquele momento, à minha frente, ansiosos por aprender o que eu tinha para lhes dar, mas ao mesmo tempo felizes por saberem que eu também queria aprender algo com eles.


   The first day in the beach was passed teaching those kids about the project, rules and responsibilities. Before going to São Tomé and Príncipe someone told me that the people there are always out of schedule and that they do not follow you everyday. Well, that was not a problem for me, I felt great as I had never fight that problems during my project because the kids were so excited with Bodyboard that they were always waiting me for the classes and rarely miss one. After that was the kids turn to teach me something, like climbing a coconut-tree. I can tell you right away that was only failed attempts, but surely a lot to laugh of.

   O primeiro dia passado na praia com as crianças foi dedicado a explicações do projecto, regras, responsabilidades. Aquilo que eu achava que seria um desafio, por ir já de sobre-aviso de Portugal: “Olha que eles não cumprem horários”, “Olha que eles não aparecem todos os dias”… Pois é, neste momento eu assemelho-me a um pavão, porque nunca tive de combater esses problemas, uma vez que os miúdos estavam tão excitados com o Bodyboard que chegavam às aulas antes de mim, e raramente falhavam. Depois foi a vez dos miúdos me ensinarem alguma coisa, como por exemplo, trepar a um coqueiro. Diga-se de passagem, tentativas falhadas, mas risota na certa. Bolas, sou um falhanço!


   I have this great moment saved in my memory, not the failed attempts of climbing the coconot-tree, that is to forget, but we sitting there eating coconuts and sugar cane. Every kid was trying to show me their skills “Frrancisca, Frrancisca, look at me”. We all laugh so much, from the deepest of our soul, and in that moment I couldn’t see no more dirtiness and disease, I only saw loving kids and I was eager to share this project with them. This was my family for the next few weeks. The first class was very entrancing, putting all those kids in top of the board, following objectives, responsibilities and reflecting about their new skills. When they achieved, I was the happier person in the world. I started thinking:
-This is real, I’m here and I’m succeeding.
And seeing their smile when they catch some wave made me smile even more.

   Parece que tenho este momento gravado na memória, não a tentativa de subir a um coqueiro, que é para esquecer, mas o de estarmos todos sentados a comer cocos, caroço e cana-de-açucar, e de todos me chamarem para ver as suas habilidades “Frrancisca, Frrancisca, vê”, de todos rirmos muito, rirmos da parte mais intima do nosso ser, rirmos com a alma, e de eu pensar: já não vejo sujidade, já não vejo doenças, vejo apenas crianças perdidas de amor, e eu faminta por partilhar isto com elas. Era esta a minha família nas próximas semanas. A primeira aula que dei foi extasiante, colocar aqueles miúdos em cima de uma prancha, a cumprir objectivos e responsabilidades, a reflectirem sobre as suas aprendizagens, e a conseguirem fazê-lo, fez de mim a pessoa mais feliz do mundo. E comecei a pensar:
- Isto é real, eu estou aqui e estou a conseguir.
E ver o sorriso deles quando deslizavam uma onda, fazia-me sorrir ainda mais.


   After a week, everyone of them was riding very well. After two weeks, some kids were doing “girro” 360. After some time, I notice a way better reflectiveness in their speech, in the feedback that they gave to their friends, and the cooperation that arise between them…and that was when I realize:
-This is really working, the kids are growing up through Bodyboard.
And I felt that deepest feeling:
-I was growing up with them.

   Passado uma semana, já todos cortavam a onda. Passado duas semanas alguns já queriam começar a fazer “girro”, melhor dizendo, 360. Com o passar do tempo, notei uma melhoria acentuada no discurso reflexivo deles, no feedback que davam aos colegas, na cooperação inter-grupo… e é aqui que me cai a ficha:
- Isto realmente está a resultar, os miúdos estão a crescer graças ao Bodyboard.
Mas também sentia profundamente:
- Eu estava a crescer graças a eles.

   After each day class, I was not able to go home right away. Everyone wanted to show me something, teach me something. And that was how I passed by after-class afternoons; playing the “can game”, trying to catch some octopus, playing soccer with a cloth ball (barefoot like them), trying to climb coconut-trees, playing in the beach, helping them fetch water for their families and washing their clothes, walking through the nearby “roças”.

   Após a aula de cada dia, normalmente não conseguia ir logo para casa. Todos me queriam mostrar algo, todos me queriam ensinar algo. E foram assim passadas as minhas tardes depois das aulas. A jogar ao jogo da lata, a (tentar) pescar polvo, a jogar à bola com uma bola de pano e sim, tão descalça quanto eles, a treinar a subidas aos coqueiros, a fazer acrobacias na praia, a ir ajudá-los a buscar água para as suas famílias e a lavar as suas roupas, a ir passear para as roças mais próximas de Ribeira Afonso.


   The last 2 days were dedicated to Boogie WACT championship. Another experience and I couldn’t find any more new words to describe them. What I felt when I saw them competing? First I felt very proud seeing them catching waves, a lot of them trying and some of them even doing 360’s. When some of them achieve to do that, I screamed like I had win the lottery. I felt that their feelings were the same as mine when I was competing. Every one of them went to his corner, warming up and very nervous. When they left the sea and they knew that they had lost, their eyes were wet and they sat at the corner reflecting about what went wrong. I think it the objective was accomplished, It was hard for me to view the positive side of this, but they surely were learning how to deal with defeat.

   Os últimos dois dias foram dedicados a um campeonato Boogie WACT. Mais uma experiência, e não encontro mais sinónimos para descrever tais experiências. O que senti quando os vi competir? Primeiro um orgulho imenso por os ver a cortar ondas, muitos deles a tentar e alguns até a conseguir fazer 360 (versão santola). Mas quando alguém o fazia, inevitavelmente eu fazia uma festa como se tivesse ganho a lotaria. Senti também que eles sentiam exactamente o mesmo que eu sentia quando era eu a competir. Cada um ía para o seu canto aquecer, concentrar-se, nervos à flor da pele… E quando saíam e sabiam que tinham perdido o heat, os olhos deles brilhavam de lágrimas, e encostavam-se a um canto a reflectir para eles mesmos o que tinha corrido mal. Ok, até aqui, objectivo cumprido. Mais uma aprendizagem para eles, lidar com a derrota, mas ainda era difícil para eles verem o lado positivo disto.

   There is something I will never forget, they way to the beach. 25 kids, 4 monitors, me and some other curious people. Every kid with the board on his head, singing and dancing, with that contrasting smile of them, so eager to get to the beach and start surfing.

   Algo de que eu nunca me vou esquecer, para além de tudo isto, é do caminho para a praia. 25 crianças, 4 monitores e eu, mais uns curiosos que vinham sempre ver as aulas. Cada aluno com a sua prancha na cabeça, cantávamos e dançávamos o caminho todo, com aquele sorriso contrastante deles e de forma a combater a ânsia de chegar à praia e atirarem-se à água para surfar.
“1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 nós somos Biguie Uequi, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 Biguie Uequi há só um. A Frrancisca apareceu, Ribeirr’Afonso agrradeceu. Eu só quero aprrender, o Biguie Uequi faz crrescer, o Biguie Uequi faz crrescer”.




   I left São Tomé and Príncipe with the certain that I gave my heart to a place I was never been at. Every word feel very small to describe this experience. Oh…what I learn from that radiant hearts… Today, I breath deeply to remind myself that feeling I can only describe as “São Tomé”.

   Saio de São Tomé com a certeza de que entreguei o meu coração a um lugar onde nunca tinha estado. Todas as palavras se tornam pequenas para transmitir uma fracção que seja desta experiência. Oh, o que eu aprendi com estes corações radiantes. Hoje, inspiro fundo para que o ar me relembre aquilo que só consigo descrever como “São Tomé”.

   When I went to São Tomé and Príncipe in July, I thought that I was going to change those kids and I think I did! I return certain that they changed me too. I bring with myself the certainty that people is the more important and also that is not me who is going to change the world. However, I content myself with this small change. And every little change are combining…I’m here, but my hearth is there. We are together!

   Em Julho, quando fui para São Tomé, achava que ía mudar aquelas crianças. E acho que mudei! Mas regresso com a certeza de que elas me mudaram a mim. Trago comigo também a convicção inabalável de que as pessoas são o que mais importa. E determinada de que não sou eu que vou mudar o mundo. Mas contento-me com esta pequena mudança. E pequenas mudanças vão-se acumulando…Eu estou aqui, mas o meu coração está lá. Estamos Juntos!

Francisca Veloso da Veiga



  Surf Locus could have made an interview to Francisca, but that surely would express so vividly the way she felt during Boogie WACT project in São Tomé and Príncipe. Thank you Francisca for this awesome and inspirational testemony!

 A Surf Locus poderia ter feito uma entrevista à Francisca, mas certamente dessa maneira não sentiríamos tão vivamente aquilo que ela sentiu durante o projecto Boogie WACT em São Tomé e Príncipe. Obrigado Francisca pelo fantástico e inspirador testemunho! 

  If you enjoyed this post, please "like" Surf Locus Facebook Page at www.facebook.com/surflocus. Have Fun!!

 Se gostaste deste post, por favor "Gosta" da página de Facebook da Surf Locus em www.facebook.com/surflocus. Abraço!



Surf Locus Facebook Page

No comments :

Post a Comment

www.HyperSmash.com